Resultados de pesquisas em cidade do MT apontam mal uso de agrotóxicos
Uma das pesquisas encontrou agrotóxicos em leite materno em cidade do Mato Grosso e faz alerta geral para o tema
Uma série de pesquisas feita por professores e
pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz) revelaram o peso do uso do agrotóxico na cidade de Lucas do Rio
Verde, cidade a 250 km de Cuiabá, Mato Grosso. Uma delas mostrou que todas as
62 mães em período de amamentação que participaram da pesquisa estavam com
resíduos de agrotóxicos no leite materno. A pesquisa foi a dissertação de
mestrado de Danielly Palma, em Saúde Coletiva da UFMT. Como o resultado ganhou
atenção pública, a autora foi ouvida pela comissão de meio ambiente e
desenvolvimento sustentável da Câmara dos Deputados.
Um dossiê contendo verificação sobre o leite
materno e demais investigações sobre Lucas do Rio Verde foram apresentados pela
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) durante a Rio+20 em junho, no
Rio de Janeiro. O texto mostra ainda que a exposição (seja pelo ambiente, no
trabalho ou via alimentos) na cidade é de 136 litros de agrotóxicos por
habitante durante o ano. A medição foi feita em 2010.
De acordo com um dos coordenadores da pesquisa, professor
Wanderlei Pignati, da UFMT, os dados mostram os problemas do uso indiscriminado
de agrotóxicos. “É o desrespeito total as legislações sobre agrotóxicos, código
florestal e Constituição ao passarem qualquer tipo de agrotóxicos – inclusive
proibidos na União Européia – com avião e trator junto das casas, periferia da
cidade, poços artesianos, escolas, criação de animais e nascente e córregos”,
disse.
Segundo os dados das pesquisas, foram encontrados
agrotóxicos em nove de doze poços de água potável, em 56% das amostras de
chuvas e 25% das amostras de ar – sendo que a coleta do ar e da água aconteceu
em pátios de escolas. Além disso, os pesquisadores descobriram que incidentes
relacionadas com agrotóxicos (como acidentes de trabalho, intoxicações por agrotóxicos,
más-formações congênitas, agravos respiratórios e tumores), aumentaram entre
40% a 102% nos últimos dez anos.
Alto índice de desenvolvimento humano
Lucas do Rio Verde está no centro do Mato Grosso
e já nasceu com vocação agrícola: em 1981 o Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra) assentou 203 famílias de agricultores oriundos do Rio
Grande do Sul para formar a comunidade inicial. Além da alta produção agrícola,
a cidade ganhou fama pela alta pontuação (0,818) no Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH), medido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud) da ONU. O índice vai de 0 a 1 e mede expectativa de vida, anos de
escolaridade e renda per capita. A cidade de 45.500 habitantes é responsável
por 1% de toda produção brasileira de grãos, mesmo ocupando 0,04% da área
nacional.
Em 2006, a cidade sofreu um acidente com
pulverização área que se espalhou pelo ar. Um horto de plantas medicinais com
mais de cem canteiros foi queimado. Além disso, o município passou por um surto
agudo de vômito, diarréia e alergia de pele em crianças e idosos. O acidente
despertou o interesse dos pesquisadores, que estabeleceram diversos projetos de
pesquisa no local.
A questão da pulverização não deixou de ser um
problema. O relatório da Abrasco apontou que pulverizações de agrotóxicos por
avião e trator eram realizadas a menos de dez metros de fontes de água potável,
córregos, de criação de animais, de residências e periferia da cidade. A
pulverização por trator a trezentos metros desses locais é proibida pela
legislação estadual –enquanto a aérea é restrita a quinhentos metros, segundo
instrução normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Segundo os pesquisadores, ao utilizar agrotóxicos fora dos parâmetros estabelecidos
por lei a ação deixa de ser algo acidental para se tornar intencional.
A conclusão do dossiê aponta para algumas
soluções, como proibir a pulverização por avião e uso de agrotóxicos que já são
vetados na União Europeia – além do fim dos subsídios para agricultores para
adquirir defensivos agrícolas. Pignati põe em xeque o modelo de desenvolvimento
agrícola do país e afirma que existem soluções viáveis. “É a transição para a
agroecologia que pode ser feito em pequena, média e alta escala da monocultura
brasileira. Vide a Native de Sertãozinho/SP (conjunto de usinas) que possui uma
fazenda de cana de 14 mil hectares e não usa uma gota de agrotóxico ou
fertilizante químico, sendo o maior produtor de açúcar e álcool orgânico do
mundo e com maior produtividade por hectare
fonte: Ecodebate