sexta-feira, 20 de julho de 2012

Leite materno envenenado


Resultados de pesquisas em cidade do MT apontam mal uso de agrotóxicos 




 Uma das pesquisas encontrou agrotóxicos em leite materno em cidade do Mato Grosso e faz alerta geral para o tema
Uma série de pesquisas feita por professores e pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelaram o peso do uso do agrotóxico na cidade de Lucas do Rio Verde, cidade a 250 km de Cuiabá, Mato Grosso. Uma delas mostrou que todas as 62 mães em período de amamentação que participaram da pesquisa estavam com resíduos de agrotóxicos no leite materno. A pesquisa foi a dissertação de mestrado de Danielly Palma, em Saúde Coletiva da UFMT. Como o resultado ganhou atenção pública, a autora foi ouvida pela comissão de meio ambiente e desenvolvimento sustentável da Câmara dos Deputados.
Um dossiê contendo verificação sobre o leite materno e demais investigações sobre Lucas do Rio Verde foram apresentados pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) durante a Rio+20 em junho, no Rio de Janeiro. O texto mostra ainda que a exposição (seja pelo ambiente, no trabalho ou via alimentos) na cidade é de 136 litros de agrotóxicos por habitante durante o ano. A medição foi feita em 2010.
De acordo com um dos coordenadores da pesquisa, professor Wanderlei Pignati, da UFMT, os dados mostram os problemas do uso indiscriminado de agrotóxicos. “É o desrespeito total as legislações sobre agrotóxicos, código florestal e Constituição ao passarem qualquer tipo de agrotóxicos – inclusive proibidos na União Européia – com avião e trator junto das casas, periferia da cidade, poços artesianos, escolas, criação de animais e nascente e córregos”, disse.
Segundo os dados das pesquisas, foram encontrados agrotóxicos em nove de doze poços de água potável, em 56% das amostras de chuvas e 25% das amostras de ar – sendo que a coleta do ar e da água aconteceu em pátios de escolas. Além disso, os pesquisadores descobriram que incidentes relacionadas com agrotóxicos (como acidentes de trabalho, intoxicações por agrotóxicos, más-formações congênitas, agravos respiratórios e tumores), aumentaram entre 40% a 102% nos últimos dez anos.
Alto índice de desenvolvimento humano
Lucas do Rio Verde está no centro do Mato Grosso e já nasceu com vocação agrícola: em 1981 o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) assentou 203 famílias de agricultores oriundos do Rio Grande do Sul para formar a comunidade inicial. Além da alta produção agrícola, a cidade ganhou fama pela alta pontuação (0,818) no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), medido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) da ONU. O índice vai de 0 a 1 e mede expectativa de vida, anos de escolaridade e renda per capita. A cidade de 45.500 habitantes é responsável por 1% de toda produção brasileira de grãos, mesmo ocupando 0,04% da área nacional.
Em 2006, a cidade sofreu um acidente com pulverização área que se espalhou pelo ar. Um horto de plantas medicinais com mais de cem canteiros foi queimado. Além disso, o município passou por um surto agudo de vômito, diarréia e alergia de pele em crianças e idosos. O acidente despertou o interesse dos pesquisadores, que estabeleceram diversos projetos de pesquisa no local.
A questão da pulverização não deixou de ser um problema. O relatório da Abrasco apontou que pulverizações de agrotóxicos por avião e trator eram realizadas a menos de dez metros de fontes de água potável, córregos, de criação de animais, de residências e periferia da cidade. A pulverização por trator a trezentos metros desses locais é proibida pela legislação estadual –enquanto a aérea é restrita a quinhentos metros, segundo instrução normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Segundo os pesquisadores, ao utilizar agrotóxicos fora dos parâmetros estabelecidos por lei a ação deixa de ser algo acidental para se tornar intencional.
A conclusão do dossiê aponta para algumas soluções, como proibir a pulverização por avião e uso de agrotóxicos que já são vetados na União Europeia – além do fim dos subsídios para agricultores para adquirir defensivos agrícolas. Pignati põe em xeque o modelo de desenvolvimento agrícola do país e afirma que existem soluções viáveis. “É a transição para a agroecologia que pode ser feito em pequena, média e alta escala da monocultura brasileira. Vide a Native de Sertãozinho/SP (conjunto de usinas) que possui uma fazenda de cana de 14 mil hectares e não usa uma gota de agrotóxico ou fertilizante químico, sendo o maior produtor de açúcar e álcool orgânico do mundo e com maior produtividade por hectare
fonte: Ecodebate

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